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segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Fita Branca - Série Indicados ao Oscar 2010


Quando o filme A Fita Branca acabou no cinema da Academia de Tênis ouvi alguns comentários nas fileiras atrás de mim: “Foi isso? Foi apenas isso? Qual o final?” Quando eu me virei eram dois casais jovens indignados pelo tempo perdido no cinema. Segundos depois, três senhoras ao meu lado comentaram: “Um dos filmes mais geniais que já assisti”.

Como a maioria dos filmes de arte, A Fita Branca não agrada a todos e gera esse tipo de choque de opiniões geracionais. Por isso sua genialidade. É um filme para iniciados.

Primeiro que é filmado em preto e branco. Ao contrário do que possa aparentar, essa opção de filmagem não foi apenas para ser “diferente”, sua fotografia é coerente com o enredo e demonstra o cenário romântico e delicado da Alemanha rural pré- I Guerra Mundial. Christian Berger, diretor de fotografia, merece o Oscar por esse trabalho. Pelo menos, sua arte nem se compara com a fotografia photoshopada de Avatar. É até decepcionante ter os dois filmes concorrendo na mesma categoria.

Uma segunda dificuldade para os leigos é que o objetivo do filme não é uma contar uma história ou fazer uma narração de fatos. O desejo do diretor e também roteirista do filme, Michael Haneke, foi descrever a situação social, política, econômica e, principalmente, psicológica da Alemanha pouco antes da I Guerra. O filme não tem um final, ele é um quadro, uma pintura de um contexto. Por isso a sensação de decepção dos jovens, que citei acima, no cinema.

A Fita Branca concorre a dois Oscars, de melhor filme estrangeiro e melhor fotografia. Sendo o favorito para a primeira indicação, por já ter ganho a Palma de Ouro em Cannes.

Michael Haneke nos conta a história de uma pequena aldeia rural na Alemanha em 1913. O diretor destaca o autoritarismo do protestantismo, seu machismo, preconceito e valorização da hierarquia, tanto familiar, quanto social. Por causa do rigor religioso, na aldeia não existe amor, apenas rancor e falta de compaixão. Esse quadro psicológico induz a platéia a pensar que foi natural o nazismo ter surgido nessa sociedade amarga.

Outro aspecto salientado no filme é a falência do modelo monárquico alemão no início do século XX. As relações quase feudais entre o fazendeiro-barão, que comanda politicamente e economicamente a aldeia, e os moradores e trabalhadores aldeões estão a ponto de explodir. Crise que levará ao fim da dinastia Guilhermina e adoção da Constituição de Weimar anos depois.

Esse é o panorama histórico desenhado por Haneke de forma magistral. Seu trabalho é uma crítica consistente e na Era de Avatar, ele nos lembra que o cinema ainda é uma arte.

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