Este blog é um esforço civilizatório pelo bom gosto.

quinta-feira, 21 de outubro de 2010

The way Wall Street looks tonight


O filme Wall Street (1987) abre sua cena inicial com uma aérea de Nova Iorque e a música do Sinatra que transcrevo aqui. A combinação é perfeita, pena que o filme deixe tanto a desejar e não passe de um bobo clichê.





Someday
When I'm awfully low
When the world is cold
I will feel a glow just thinking of you
And the way you look tonight

Yes you're lovely
With your smile so warm
And your cheeks so soft
There is nothing for me but to love you
And the way you look tonight

With each word your tenderness grows
Tearing my fear apart
And that laugh
Wrinkles your nose
Touches my foolish heart

Lovely
Never ever change
Keep that breathless charm
Won't you please arrange it
Cause I love you
Just the way you look tonight

And that laugh
That wrinkles your nose
It touches my foolish heart

Lovely
Don't you ever change
Keep that breathless charm
Won't you please arrange it
Cause I love you
Just the way you look tonight

Hmm...
Hmm...
Just the way you look tonight

sábado, 2 de outubro de 2010

NOSSO VOTO!


Eleição também é classe!

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Harmonização

Após longo jejum no blog, me proponho a elencar sugestões de harmonização.

Antes da primeira tentativa, contudo, convém delinear a proposta. Harmonizar significa conciliar, colocar de acordo duas ou mais coisas. Ou, ainda, combinar, conjugar. Ou, por fim, equilibrar, simetrizar.

Todos já ouviram falar da essencial arte de harmonizar vinhos e comidas. Trata-se de ‘arte’, segundo vejo, porque a harmonização varia com o paladar e o olfato de cada um, de modo que não se aprende a harmonizar vinhos (ou outras bebidas) e comidas; mas tenta-se, equivoca-se, acerta-se e, com o tempo, a tendência é acertar cada vez mais. E é ‘essencial’, porque vinho e comida em desarmonia tornam-se ou um desprazer ou, no mínino, um desperdício de tempo e dinheiro.

Minha proposta não é sugerir combinações entre esta casta e aquele prato, mas algo mais ambicioso. Tentarei inventar, com base em experiências sensoriais de finais de semana, um todo harmonizado. Mantendo-me em níveis mais gerais, a fim de evitar propostas demasiado enfadonhas, indicarei momento, ambientação, música, vinho e, talvez, alguma comida. Espero, após esse exercício, poder, eventualmente acertar alguma combinação.


Tentativa n° 1 de harmonização:

Visita a uma casa de amigos, informal, sem motivação aparente além da vontade de estar lá. Parece-me que em um clima de descontração, pessoas conversando sentadas em puffs ou mesmo no tapete, em uma noite levemente fria, combina com um vinho tinto leve e de fácil paladar, i.e, agradável sem ser muito complexo. Uma excelente sugestão é o Woodbrigde, de Robert Mondavi, um cabernet sauvignon que tive o prazer de conhecer com os outros Chatêaux. Como música de fundo, baixa para não competir com o tom de voz das pessoas, indico, entre centenas de outras possibilidades, a sinfonia n° 1 de Haydn, a qual me parece ter as mesmas características do cabernet sauvignon do Mondavi.

Não tive, ainda, oportunidade de testar essa combinação. Alguém se habilita?

domingo, 15 de agosto de 2010

Sobre o dandismo: Tom Wolfe

Tom Wolfe nasceu em Richmond, Virginia. Tom Wolfe foi criado em uma família presbiteriana.
Tom Wolfe é filho de pais cultos e ricos, um bocado ricos.

Tom Wolfe é um WASP, um bom WASP.








Thomas Kennerly Wolfe Jr. nasceu em 02 de março de 1931. Ficou conhecido por ter encabeçado o movimento do New Journalism nos anos 1960 e 1970. Crítico afiado do falso-moralismo que permeia sua sociedade, Wolfe não poupa os hipócritas à direita e esquerda. Em obras como Escândalo no Forte Bragg ele expôs o ridículo dos brucutus brancos do sul e, ao mesmo tempo, deu entrevista ao New York Times defendendo o voto no Presidente George W. Bush e apontando o dedo nas hipocrisias e patrulhamento da intelectualidade Democrata.


Mas não vamos tratar aqui das habilidades intelectuais do nosso vencedor do American Book Award. Falemos de algo mais. Falemos de dandismo.
Curioso saber que o ícone do dandismo aderiu ao terno branco como que por um acidente. Em 1962 ele havia comprado o terno p/ utilizá-lo no verão. O que ocorreu foi que o material era tão pesado que acabou sendo obrigado a usá-lo durante o inverno. A iniciativa gerou um falatório tão grande que o autor decidiu aderir ao novo estilo. Daí tiramos uma lição: um dândi não pode sê-lo sem querer fazer o óbvio: chamar atenção.


Tem gente que crê que qualquer coisa que não seja discreta é deselegante, em especial quando falamos de homens. Acho limitado demais, medíocre demais.
Se a inteligência de Wolfe não é discreta, mas apurada ao ponto de ser luminosa, por qual razão suas roupas deveriam seguir destino diferente?


Afinal, você não precisa ser uma personagem de Fogueira das Vaidades para ter seu bom senso estético.


sábado, 31 de julho de 2010

Sobre o dandismo - Parte I





One who studies ostentatiously to dress fashionably and elegantly; a fop, an exquisite."

Eis a definição disponível no Oxford English Dictionary para "dândi". Essa figura, que se veste com esmero apuradíssimo, costuma ter hobbies de origem aristocrática, linguagem e modos refinados e pratica o que podemos chamar de culto aoSelf.

O dandismo tem origem na Europa do fim do século XVIII e início do XIX. A postura de um dândi sempre gerou controvérsia a respeito do significado de sê-lo. Afinal, seria apenas uma manifestação rasa de um espírito esnobe ou mais uma manifestação cultural com algum valor além de puro materialismo?



A definição de Baudelaire parece-me a mais justa (perfeita, para ser bem claro):

"Dandyism in certain respects comes close to spirituality and to stoicism" e "These beings have no other status, but that of cultivating the idea of beauty in their own persons, of satisfying their passions, of feeling and thinking .... Contrary to what many thoughtless people seem to believe, dandyism is not even an excessive delight in clothes and material elegance.For the perfect dandy, these things are no more than the symbol of the aristocratic superiority of his mind."


As vestimentas devem ser a manifestação do nosso estado de espírito. Baudelaire estava muito certo e vou tratar um pouco melhor disso no próximo post: Sobre o Dandismo - Tom Wolfe.




domingo, 25 de julho de 2010

Tudo Pode Dar Certo


O conto é a menor das narrativas. É breve e simples. Não há espaço e tempo para sutilezas. Pequenos detalhes cotidianos tornam-se protagonistas da ficção, num enredo que condensa e economiza meios narrativos para ser objetivo e direto ao máximo. Woddy Allen, no seu mais recente filme, Tudo pode dar certo (2009), segue à risca a estratégia dos contistas e talvez por isso tenha sido tão criticado pela mídia. Allen abusa dos estereótipos, apela para exageros e para ironias óbvias. Seu filme é como vários contos reunidos em uma grande narrativa que busca resumir em somente uma história o panorama social dos Estados Unidos atual. Talvez este tenha sido o erro de Allen. Os contos são ótimos para narrar pequenos retratos cotidianos que em sua singularidade representam um contexto geral, no entanto Allen quis falar muita coisa em apenas um filme usando a objetividade dos contos. A receita não deu tão certo.

O filme narra a história do sessentão novayorquino Boris Yellnikoff (Larry David) um físico divorciado e frustrado com a vida que se acha consciente da mediocridade do ser humano e por isso tenta se matar para não viver num mundo tão pequeno para sua genialidade. A postura niilista de Boris vai contrastar com a ingenuidade de seu improvável par romântico, a caipira Melody St. Anne Celestine (Evan Rachel Wood), algumas dezenas de anos mais nova. Melody fugiu de sua casa no Mississipi porque não aguentava mais viver numa família protestante e conservadora e acaba sendo albergada por Boris, com o qual acaba casando. Os pais de Melody vão atrás da filha e seu convervadorismo entra em choque com o liberalismo moral de Nova York, o que resulta em ótimas cenas de comédia.

Tudo pode dar certo não é um dos melhores filmes do diretor, mas vale a pena assistí-lo. Suas críticas sociais são super engraçadas e os diálogos fazem jus à genialidade de Allen. Larry David não tem uma atuação muito complexa já que causa apenas reações previsíveis nos espectadores, o que nos leva a sentir falta do próprio Woddy Allen fazendo o seu papel. O destaque é a atuação de Evan Rachel Wood. A atriz mostrou-se uma ótima comediante após se destacar em dramas como O Lutador (2008) e Aos Treze (2003).

sábado, 15 de maio de 2010

Moda - Ralph Lauren

RL Spring-Summer 2010
www.ralphlauren.com
Black Label
http://www.ralphlauren.com/shop/index.jsp?categoryId=2871712
Purple Label



Mas fica a pergunta: gravata com bermuda?

Fotografia e arte

Creative NERDS

domingo, 2 de maio de 2010

Alice ou (please) off with Tim Burton's head


Talvez se trate de um padrão. O segundo filme em 3-D que fui ver foi revoltantemente ruim – o primeiro foi Avatar. Mas esse pelo menos era só uma mistura insalubre de Star Wars com Pocahontas pintado de azul.


Nessa última noite de sábado deixei de lado uma proposta interessante e fui assistir a Alice no País das Maravilhas com alguns amigos. (São estes, aliás, que sempre salvam a noite.) R$13 de meia entrada para usar óculos 3-D que, no final, seriam devolvidos.


A proposta do filme, apesar do título, é fazer uma continuação da história do clássico de Lewis Carroll, com Alice debutando na fase adulta – algo como Alice no País das Maravilhas 2, o Retorno. Nesse filme, Alice se vê forçada a se casar com um Lord sem graça quando, de repente, o tal coelho a atrai novamente para o buraco que a leva para Wonderland. Eis que, do nada, o desenrolar da ““trama”” começa a se afastar da do livro, até que fica claro que realmente não se trata da história original adaptada para o cinema – o que, em si, já é uma imensa frustração.


Mas não apenas; o filme se esforça para ser ruim, massante, clichê, enfadonho e todos os demais eufemismos para “um saco” que possa existir. O filme não tem pé nem cabeça – o que, infelizmente, não reflete o nonsense da obra de Carroll, mas se deve apenas à completa falta de imaginação do enredo. O roteiro é previsível, batido: a personagem principal é uma jovem inocente que se vê destinada a salvar o mundo e, claro, tem grande êxito após uma chatíssima batalha final. Some-se a isso o figurino apenas correto e as péssimas atuações –nem mesmo Johnny Depp, como Chapeleiro Maluco, faz mais que decorar suas falas.


É revoltante a habilidade da produção do filme de transformar uma história como Alice no País das Maravilhas em algo tão ruim. Talvez ganhe um Oscar no ano que vem.



quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Moldava ou Um Quadro-Poema em Música

Escultura de Bedřich Smetana na beira do rio Moldava

Em um curso de música, o professor mostrou uma peça do poema sinfônico Má Vlast (Minha Pátria), do compositor tcheco Bedřich Smetana. A obra é hino ao país de Smetana, daí o lugar de destaque que sua escultura ocupa em Praga.

O Moldava (Vladava, em tcheco; mas o nome em português parece uma corruptela do alemão, die Moldau) é o rio que corta a capital da República Tcheca. Não atoa, foi destacado na obra do compositor e é o movimento mais conhecido.

A peça inicia-se com duas flautas, que indicam o correr das águas de dois afluentes do rio. Ao se unirem, o Moldava ganha corpo, e as cordas da orquestra se unem ao sopro. A melodia lembra a fluidez calma de um volumoso rio. Pouco depois (por volta de 2min30), o tema muda, e percebe-se variações no curso do rio; a música se intensifica e mostra rugosidades, aumenta e diminui sua intensidade. Com um mapa do rio, talvez seja possível identificar similitudes da peça com curvas e obstáculos fluviais naturais.
Por volta de 3min40, o tema muda novamente. Segundo o professor, aqui entra em destaque ritmos de polca, que representam celebrações campesinas, talvez, de um casamento. O enfoque da melodia muda: no começo, o espectador (ouvinte) contemplava o rio; agora, contempla-se a paisagem tcheca banhada pelas águas do Moldava. Pouco depois, em 5min, o tema muda novamente. É uma espécie de cena fantástica, onírica, que, novamente, mostra o ambiente tranquilo do qual o rio faz parte.
Em 7min20, volta-se o tema principal e a atenção à corrente do rio. A fluidez arrasta o ouvinte-espectador de forma confortável... até que os metais entram em cena (8min10) e aumentam a vibração da peça. Entra-se em momento de gravidade, de preocupação. São as corredeiras e as quedas d'águas - imagine um barquinho sendo arrastado, se debatendo entre as margens do rio e as pedras e árvores no leito.
Vitorioso (9min20), o barco supera os obstáculos naturais, e o tema do Moldava ganha variações que parecem querer demonstrar a glória do povo tcheco representada pelo rio. A partir de 10min33, as cordas, suaves e silenciosas, ilustram o rio se perdendo de vista. O observador-ouvinte fica observando o lento curso do rio, que, a seus olhos, não tem fim.

Indico a versão regida por Toscanini (embora prefira a de Kubelik): http://www.youtube.com/watch?v=49WNphaiwNY

quinta-feira, 25 de março de 2010

Um Sonho Possível - Oscar 2010


O único motivo que me levou a ir ao cinema para assistir Um Sonho Possível foi o Oscar de Melhor Atriz ganho por Sandra Bullock por esse filme. Queria constatar, o que eu já previa, que a atriz ganhou o prêmio apenas por altruísmo da Academia e não por merecimento.

Sandra Bullock interpreta a perua, Leigh Anne Tuohy, que tem um marido rico e uma vida cercada de futilidades. Em um dia chuvoso e frio, ela reconhece na rua um colega de escola de seus filhos, o jovem Michael Oher (o ator Quinton Aaron de “Rebobine, por favor”), que vagava pela chuva sem ter onde dormir. Leigh Anne é tomada por um sentimento de caridade e resolver levar Michael para morar em sua casa, sem muitos questionamentos de seu marido e de seus filhos (simples assim). A mãe de Michael é viciada em crack e mora no subúrbio violento de Memphis e seu pai se matou pulando de um viaduto. Por ser alto e gordo, Michael ganhou uma bolsa de estudos num colégio de ricos para jogar futebol americano, apesar de ser um analfabeto funcional. Como consequência do incentivo dado pela nova família, Michael se torna um grande jogador de futebol americano, apesar de todas as adversidades.

O diretor e roteirista John Lee Hancock demorou 2 horas e meia para contar essa história bonitinha e superficial e ainda teve a sorte de ser indicado para o Oscar de melhor filme. Um Sonho Possível é chato e demorado, o diretor se esforça para contar uma história emocionante e não explora conflitos essenciais da vida real do jogador Michael Orne, como o preconceito racial numa escola privada do Tennesse. Definitivamente esse foi o pior filme de 2009 que eu vi. Nem as animações da Disney e Pixar estão seguindo atualmente esse roteiro água-com-açucar trabalhado por Hancock.

A atuação da Sandra Bullock não foi nada diferente do que ela fez em 20 anos de profissão. Ela apela para estereótipos na composição dos seus personagens o que sempre torna seus filmes uma comédia-romântica boba, por mais dramática que seja a história. Ela não tem a mínima capacidade de importar características psicológicas e agregá-las aos seus personagens, por isso usa sua própria personalidade para construí-los. De todas as atrizes que concorreu ao Oscar ela foi a pior. Seu prêmio não passou de uma honraria artística dada pela sua popularidade e carisma com o público.

Não vale a pena ir ao cinema para vê-lo. Espere que o filme passe na sessão da tarde.

terça-feira, 9 de março de 2010

A modernidade na contemporaneidade: Malfatti vs Pandolfo




Eu fui apresentado à arte dos irmãos Otavio e Gustavo Pandolfo, conhecidos artisticamente como Os Gemeos, há uns 2 anos pela minha amiga e especialista em Cultura e Arte Urbana Marilia Zoboli. Naquele momento, os irmãos Pandolfo estavam sendo reconhecidos como um dos maiores representantes mundiais da arte do grafite e inauguravam o grande painel que revestiu a fachada da Tate Modern em Londres durante o verão de 2008.

Agora o Centro Cultural Banco do Brasil traz a Brasília a exposição Vertigem, de curadoria dos próprios gêmeos, que fazem questão de salientar que a exposição não é grafite, porque o grafite está na rua, não em galerias. O que eles pretendem apresentar é arte contemporânea.

Apesar dessa limitação conceitual, a exposição é um pequeno resumo do trabalho dos grafiteiros. Tem um grande painel em grafite com todos os elementos que caracterizam sua obra: cor amarela, bandeirinhas juninas, lirismo, romantismo, imagens familiares e ironia política.

A exposição abusa de instalações, cores, luzes, texturas, móbiles, obras interativas. Os Gêmeos fizeram de sua exposição um grande parque de diversões, o que se torna uma oportunidade para introduzir os mais novos na arte contemporânea. Para mim, o grande destaque foi o uso de texturas nos grafites e esculturas, é possível encontrar pena de pavão, lata de óleo, madeira, vidro, purpurina, entre outros materiais que oscilam do reciclado ao luxuoso.




Paralelamente, está em exposição no CCBB a exposição Anita Malfatti – 120 anos de nascimento. É um ótimo exercício artístico comparar a obra d´Os Gemeos com o trabalho de uma das fundadoras do movimento modernista no Brasil. Perto da arte urbana dos Pandolfo, a obra da Malfatti se torna quase neoclássica. Fica evidente que a arte moderna foi o início de um caminho que culminou na arte contemporânea. Malfatti ousou nas cores mais fortes, na ousadia das formas, na incongruência entre representação e realidade, no uso de novos materiais e plataformas, todas características presentes nos gêmeos. O mais interessante é a presença das bandeiras juninas típicas de Alfredo Volpi nos dois trabalhos. O mesmo elemento foi usado com objetivos distintos, enquanto Malfatti queria descobrir o Brasil rural com suas festividades e mitos, os Pandolfo usam o lirismo das festas tradicionais para destoar do caos urbano.

Importante comentar que Vertigem é resultado de uma curadoria profissional, acostumada com a tradição dos grandes centros culturais mundiais de atrair público, inclusive com objetivos comerciais. A exposição de Anita Malfatti mostra o amadorismo ainda presente na produção cultural nacional. Há um excesso de quadros, sem o devido suporte didático, a exposição não é pedagógica e nem auto-explicativa, o que a torna cansativa e chata e afugenta o público, que perde a chance de conhecer um símbolo da vanguarda feminista do modernismo brasileiro.

Serviço:

Anita Malfatti – 120 anos de nascimento

Data: De 23 de fevereiro a 25 de abril

Os Gêmeos – Vertigem

Data: De 02 de março a 16 de maio

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Fado Tropical ou Raízes do Brasil


Oh, musa do meu fado
Oh, minha mãe gentil

Te deixo consternado

No primeiro abril
Mas não sê tão ingrata
Não esquece quem te amou
E em tua densa mata

Se perdeu e se encontrou
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

“Sabe, no fundo eu sou um sentimental
Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dosagem de lirismo (além da sífilis, é claro)
Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar
Meu coração fecha os olhos e sinceramente chora...”

Com avencas na caatinga
Alecrins no canavial
Licores na moringa

Um vinho tropical
E a linda mulata
Com rendas do alentejo
De quem numa bravata
Arrebata um beijo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal

Ainda vai tornar-se um imenso Portugal

“Meu coração tem um sereno jeito
E as minhas mãos o golpe duro e presto
De tal maneira que, depois de feito
Desencontrado, eu mesmo me contesto

Se trago as mãos distantes do meu peito
É que há distância entre intenção e gesto
E se o meu coração nas mãos estreito
Me assombra a súbita impressão de incesto

Quando me encontro no calor da luta
Ostento a aguda empunhadora à proa
Mas meu peito se desabotoa

E se a sentença se anuncia bruta
Mais que depressa a mão cega executa
Pois que senão o coração perdoa”

Guitarras e sanfonas
Jasmins, coqueiros, fontes

Sardinhas, mandioca
Num suave azulejo
E o rio Amazonas

Que corre trás-os-montes
E numa pororoca

Deságua no Tejo
Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal

Ainda vai tornar-se um império colonial

Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal
Ainda vai tornar-se um império colonial


Essa música, composição de Chico Buarque e Ruy Guerra para o musical “Calabar – O elogio da traição”, é uma das maiores obras da poesia musicada brasileira que eu conheço. Foi escrita entre 1972 e 1973, sob censura do regime militar. A história por trás do musical é bastante interessante, mas Fado Tropical, por si só, é um fenômeno.

A música fala claramente do Brasil, sobre o lirismo, a DST e o estilo musical que herdamos de Portugal. De cara percebe-se uma divisão na canção, com duas vozes diferentes cantando coisas diferentes. De um lado, um cantor (versos em itálico) coloca em palavras as características e as belezas de uma terra semelhante a Portugal (ou seria o próprio Portugal transplantado?). De outro lado, um narrador (versos entre aspas), herdeiro do sangue português, declama desabafos e justifica a crueldade de seus atos.

[Permitam-me uma conjectura tosca: estaria o primeiro (o cantor) ecoando as Raízes do Brasil, do pai do Chico Buarque? Ou talvez o segundo estivesse dialogando com Sérgio Buarque, ao descrever sua herança de “homem cordial”? Fato é que Fado Tropical mostra a ligação intrínseca do povo brasileiro com suas raízes portuguesas, raízes essas presentes e que fundamentam ainda hoje as relações entre Brasil, Portugal e PALOP.]

O segundo, o narrador, é a grande estrela da música. Seu poema difere do primeiro: é mais impressionista, lírico, íntimo, mais dramático. Não canta suas estrofes, apenas declama-as. Ao mesmo tempo que desabafa a desumanidade seus atos, busca justificar-se, salvar-se em sua sensibilidade e... bondade? Ele não consegue equilibrar sentimentos e atitudes (ou seria dever?). Ele age como que por impulso, por ordem superior, ou por inércia. O fado se aprofunda quando ele fala, puxa o ouvinte para o fundo do poço de culpa e remorso que ele sente.
Por duas vezes, ele fala ao público. Na primeira se apresenta, se mostra. Na segunda, com versos em forma de soneto, aprofunda o conhecimento de seu estado dicotômico: “Se trago as mãos distantes do meu peito / É que há distância entre intenção e gesto”. Esse estado, entre o sensível e o desumano, imita a própria clivagem da música: de um lado, bela e descritiva; de outro, angustiada e introspectiva.

O narrador se esconde entre os versos do cantor. Aparece e se esconde atrás das descrições e da canção. Quando reaparece, é para tomar ar e falar, para então novamente mergulhar na sua bravura de homem cordial e cruel. Note como, enquanto ele fala, o violão vai perdendo espaço para o violino. O som do violino some quando o cantor volta. É instrumento exclusivo da angústia do narrador – esse herdeiro lusitano cheio de lirismo e... sífilis?

Um primor.

Apesar da tosquíssima seleção de imagens, a versão da música que mais me agrada é esta: http://www.youtube.com/watch?v=VHQFmBrjLCM
(Veja que a palavra “sífilis” foi suprimida da música; ordem da censura.)

(…) O maior fardo do País é sua herança ou o destino previsto pelo cantor?

Amor sem Escalas - Série Indicados ao Oscar 2010


Amor sem Escalas conta a história de um executivo de recursos humanos que passa 322 dias por ano viajando para ir demitir funcionários. Ryan Bingham, personagem de George Clooney, usa seu trabalho como uma fuga pessoal, para evitar relacionamentos e não entrar no marasmo da vida cotidiana. Como o próprio personagem diz, ele tirou todo o peso dos relacionamentos das costas. Esse estilo de vida de Ryan é ameaçado pela nova funcionária de sua empresa, interpretada por Anna Kendrick, que pretende revolucionar os métodos ao propor que os funcionários sejam demitidos pela internet e os custos com viagem sejam diminuídos. Ryan é então obrigado a reavaliar sua opção de vida e a encarar os relacionamentos de outro modo, inclusive tentar assumir seu “sexo casual” com a executiva Alex (Vera Farmiga) como namoro.

Com essa história boba, Amor sem Escalas já ganhou o Globo de Ouro de melhor roteiro e foi indicado ao Oscar de melhor filme, melhor direção (Jason Reitman – mesmo diretor de Juno), melhor ator (George Clooney), duas indicações de melhor atriz coadjuvante (Anna Kendrick e Vera Farmiga) e melhor roteiro adaptado (Jason Reitman e Sheldon Turner).

Passei o filme inteiro com a sensação de que já tinha visto essa história antes. Até me emocionei em alguns momentos por causa da minha identificação com o personagem, mas acho que o filme não tem qualidade para ganhar nenhum dos Oscars ao qual foi indicado. Eu gostei especialmente da atuação de Vera Farmiga, mas, de novo, acho que não é o suficiente para ela ganhar o Oscar. Discordo da indicação de Anna Kendrick, ela teve uma péssima atuação e sua voz de adolescente mimada é irritante.

Em suma, Amor sem Escalas nem é tão ruim, que não merecesse ser indicado, nem é tão bom para merecer ganhar alguma coisa. Vá assistir apenas se não tiver nada melhor para fazer.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Invictus ou O Château Papel Político da Bola

Out of the night that covers me,
Black as the Pit from pole to pole,
I thank whatever gods may be
For my unconquerable soul.

In the fell clutch of circumstance
I have not winced nor cried aloud.
Under the bludgeonings of chance
My head is bloody, but unbowed.

Beyond this place of wrath and tears
Looms but the Horror of the shade,
And yet the menace of the years
Finds, and shall find, me unafraid.

It matters not how strait the gate,
How charged with punishments the scroll.
I am the master of my fate:
I am the captain of my soul.



Semana passada assisti Invictus com uma amiga. O filme coincide com a comemoração de 20 anos de libertação de Nelson Mandela – que ficou preso por quase 30 anos. No filme, Morgan Freeman interpreta o papel do primeiro presidente pós-apartheid de maneira bastante carismática. Frases de efeito, que demonstram a superioridade moral e de visão estrutural de longo prazo completam o personagem. Monta-se imagem de verdadeiro líder e estadista, construtor ideal que os sul-africanos precisavam em momento tão crucial na história daquele país.

O roteiro é leve; o enredo, simples. Tem começo, preparação para o clímax, clímax, superação, final feliz. Ótimo para uma tarde preguiçosa de domingo. O grande pecado do filme (ainda que tenha sido a proposta do enredo) é o fatigante destaque dado para o rugby, esporte nacional e elemento quase exclusivo de catalisação da unidade entre os sul-africanos. Mandela é apenas secundário na história, como parece transparecer pela capa do filme (acima). Ele é mero garantidor do sucesso do esporte como elemento de coesão social entre negros e brancos após o mais cruel regime de segregação racial das últimas décadas. O personagem de Morgan Freeman concorre em importância com o de Matt Damon, o capitão do time François Pienaar. Obviamente, o time ganha a copa do mundo – digo sem incorrer no risco de revelar o final do filme, final pra lá de previsível. Contudo, fica claro pelo roteiro e pela preocupação do presidente Mandela que, se perdessem, o futuro do país seria incerto; a nação poderia cair em perigosa desunião nacional. A conciliação entre negros e brancos estaria condenada. O papel de Mandela, no filme, foi, apesar de seu heróico passado, resumido a supervisor da ascensão do time de rugby.

Esporte é sim elemento de coesão social e pode ser instrumento de política, como tem sido comprovado com diferentes graus de êxito. Certamente, a vitória do time no campeonato de rugby, no imediado pós-apartheid, contribuiu para a harmonização racial da África do Sul. O problema foi a dedicação quase exclusiva do roteiro ao esporte. O filme não é sobre Mandela. É sobre superação e conquista – da Copa do Mundo de Rugby de 1995. Fica minha frustração pessoal com a proposta do enredo. Os R$9 do cinema só compensaram pela companhia e pela indicação do poema de William Henley.

E três vivas para o Piratpartiet.

(…) Sobre Mandela em filmes recentes, muito melhor é o Goodbye Bafana, de 2007.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

O Segredo Dos Seus Olhos - Série Indicados ao Oscar 2010


“Justiça é dar a cada um o que lhe é devido”. Platão

A filosofia já gastou páginas e páginas tentando definir é que é justiça. O filme argentino O Segredo Dos Seus Olhos traz novamente essa temática e tenta contribuir com o debate fazendo a audiência refletir sobre até que ponto a justiça feita pelo Estado é eficaz e se é legítimo fazermos justiça com as nossas próprias mãos.

O diretor Juan José Campanella e o roteirista Eduardo Sacheri são mestres na arte de contar histórias. Apesar do filme começar um pouco lento e confuso, a história vai ganhando densidade aos poucos e termina com um final genial. A narrativa confunde drama com suspense e tem umas leves passagens de comédia. Só pelo enredo já vale a pena ver o filme. Eu ia fazer um resumo da história, mas tenho medo de adiantar alguma cena importante. Recomendo o filme a todos que gostam de suspenses policiais, a única diferença desse filme é que em nenhum momento segue um receituário previsível.

Uma curiosidade é que Campanella foi diretor de Law & Order: Special Victms Unit e de House. E foi roteirista de O filho da Noiva, filme argentino que foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro em 2002. Fica provada então sua maestria como bom narrador.

Como na maioria dos filmes latinos, a iluminação é péssima. Tenho uma grande dúvida para saber o motivo desse amadorismo na iluminação. Será falta de pessoal técnico qualificado, falta de dinheiro ou é tudo intencional e faz parte do estilo “latino” de fazer cinema?

O Segredo Dos Seus Olhos concorre ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Acho que tem poucas chances de ganhar de A Fita Branca, mas a qualidade da história já valeu a indicação. O cinema argentino mais uma vez mostra que sabe fazer filme sem precisar recorrer à desgastada temática social.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A Fita Branca - Série Indicados ao Oscar 2010


Quando o filme A Fita Branca acabou no cinema da Academia de Tênis ouvi alguns comentários nas fileiras atrás de mim: “Foi isso? Foi apenas isso? Qual o final?” Quando eu me virei eram dois casais jovens indignados pelo tempo perdido no cinema. Segundos depois, três senhoras ao meu lado comentaram: “Um dos filmes mais geniais que já assisti”.

Como a maioria dos filmes de arte, A Fita Branca não agrada a todos e gera esse tipo de choque de opiniões geracionais. Por isso sua genialidade. É um filme para iniciados.

Primeiro que é filmado em preto e branco. Ao contrário do que possa aparentar, essa opção de filmagem não foi apenas para ser “diferente”, sua fotografia é coerente com o enredo e demonstra o cenário romântico e delicado da Alemanha rural pré- I Guerra Mundial. Christian Berger, diretor de fotografia, merece o Oscar por esse trabalho. Pelo menos, sua arte nem se compara com a fotografia photoshopada de Avatar. É até decepcionante ter os dois filmes concorrendo na mesma categoria.

Uma segunda dificuldade para os leigos é que o objetivo do filme não é uma contar uma história ou fazer uma narração de fatos. O desejo do diretor e também roteirista do filme, Michael Haneke, foi descrever a situação social, política, econômica e, principalmente, psicológica da Alemanha pouco antes da I Guerra. O filme não tem um final, ele é um quadro, uma pintura de um contexto. Por isso a sensação de decepção dos jovens, que citei acima, no cinema.

A Fita Branca concorre a dois Oscars, de melhor filme estrangeiro e melhor fotografia. Sendo o favorito para a primeira indicação, por já ter ganho a Palma de Ouro em Cannes.

Michael Haneke nos conta a história de uma pequena aldeia rural na Alemanha em 1913. O diretor destaca o autoritarismo do protestantismo, seu machismo, preconceito e valorização da hierarquia, tanto familiar, quanto social. Por causa do rigor religioso, na aldeia não existe amor, apenas rancor e falta de compaixão. Esse quadro psicológico induz a platéia a pensar que foi natural o nazismo ter surgido nessa sociedade amarga.

Outro aspecto salientado no filme é a falência do modelo monárquico alemão no início do século XX. As relações quase feudais entre o fazendeiro-barão, que comanda politicamente e economicamente a aldeia, e os moradores e trabalhadores aldeões estão a ponto de explodir. Crise que levará ao fim da dinastia Guilhermina e adoção da Constituição de Weimar anos depois.

Esse é o panorama histórico desenhado por Haneke de forma magistral. Seu trabalho é uma crítica consistente e na Era de Avatar, ele nos lembra que o cinema ainda é uma arte.