Este blog é um esforço civilizatório pelo bom gosto.

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Made in Dijon


Passeando pelos cardápios do Restaurant Week percebi que vários deles ofereciam pratos servidos com mostarda Dijon. Parece uma tentativa de chefs sem criatividade de dar sofisticação a pratos simplistas e baratos. A arte da gastronomia econômica e com qualidade deve ser prestigiada, mas o esforço se torna falho quando se apela para o óbvio. Depois de termos passado pelo fetiche da Nutella, pela Mozzarella de Búfala, pelo tomate seco, pelo queijo Gouda, a bola da vez nas cozinhas de Brasília é a mostarda Dijon.

No festival de gastronomia a vemos no escalopinho de filet da Alice Brasserie, no escalope de filet mignon (de novo) do Café Savana, no filé grelhado do Heat, no Filé Mignon do Road House, no peito de frango do San Lorenzo Ristorante. Sem contar os restaurantes que usaram molho de mostarda em seus pratos sem recorrer ao apelo pseudo-glamouroso das denominações de origem.

Acho super válido a popularização dos ingredientes de qualidade produzidos além-mar, mas seu uso indiscriminado por chefs que crêem na ignorância gastronômica da classe média desprestigia a arte da boa mesa e a fama dos it-chefs. São nesses momentos de marasmo criativo nas cozinhas, que chefs desconhecidos ganham notoriedade, destaco os chefs do restaurante Panelinha Brasileira (Ademir Gudrim, os irmãos Gelson e Delza Leite, e Raul Ferreira da Costa Júnior), que oferecem um filé de pescada amarela ao molho de tucupi, acompanhado de brandade de purê de banana-da-terra, farinha d'água hidratada no leite de coco e jambu, em crosta de queijo coalho.

Uma genialidade perto da mesmice da Mostarda Dijon.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ilê – do Iorubá ao baianês


Um baiano estava deitado na rede e gritou:

- Mãe, você tem soro antiofídico?!
- Por que, meu filho, uma cobra te picou?!
- Não, mas ela está chegando perto.

Essa velha e carcomida piada resume bem o atendimento no Ilê Restaurante (SCLS 209, Bloco C, Loja 13). Logo na entrada, o cliente não é devidamente recebido por uma hostess e tem que se aventurar a achar uma mesa num restaurante lotado como se estivesse numa praça de alimentação de Shopping Center. Os iorubás tupiniquins também não aprenderam que quem serve a comida não pode ser a mesma pessoa que limpa a mesa. Os garçons não conseguiam limpar todas as mesas antes que os novos clientes chegassem, os quais ficavam apreciando o cheiro dos restos mortais do cliente anterior enquanto esperavam serem lembrados pelos garçons. Depois do contato inicial, a experiência não melhora. Todos os talheres estavam mal lavados, a garçonete esqueceu o pano úmido de limpar as mesas em cima da MINHA mesa e após a refeição os pratos só foram retirados depois de começar seu processo de putrefação. Sem querer ser injusto com os baianos, mas em termos de atendimento, a cordialidade baiana não tem sido bem representada em Brasília.

O menu do Restaurant Week tinha como entrada a casquinha de siri com farofa de dendê. A farofa estava fantástica, mas não compensou o gosto de água do siri congelado. Infelizmente, frutos do mar só servem se forem frescos.

O prato principal foi uma moqueca de camarão no côco, prato ornamentado com flores e pimentas de cheiro, ótima apresentação, que condizia com a proposta de uma moqueca leve e saborosa. Não consegui identificar dendê na receita, o que denuncia que eles tenham usado leite de côco como substituto, o que explicaria a textura aguada do prato. O acompanhamento foi arroz branco, pirão e mais farofa de dendê.

A sobremesa foi uma simples torta de chocolate com creme de leite. Nada demais, foi colocado no cardápio apenas para preencher a obrigação de ter que servir um menu completo. Eles teriam sido mais felizes se tivessem oferecido uma sobremesa baseada em frutas tropicais, o que seria barato e criativo.

Acho que o prato principal não faz valer a pena a visita.

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Dom Francisco ou Seu Chico

"Este café é tão amargo... quanto a vida para algumas pessoas", diria um ministro sobre o café do IRBr. Seu Chico, responsável pelas guloseimas do Instituto, reclama que até o açúcar deve ser comprado após licitação pública.

Debutei no RW em jantar no Dom Francisco, Park Shopping. Foi a segunda opção de ontem a noite, já que o lugar escolhido (Alice, QI 17 Lago Sul) estava fechado. Confesso que, talvez pelo nome do restaurante, temi que o serviço, a apresentação e a comida fossem equiparados ao que temos no IRBr - seja culpa do Seu Chico, seja pela nossa arquitetura institucional federal. Confesso [2] que meu temor foi mais por aversão inicial às opções de prato principal que coisa. Explico: as opções eram ou bacalhau, ou cordeiro com polenta. Problema: não gosto nem de bacalhau nem de polenta.

Sem saída, decidi pelo cordeiro. Abstraindo a polenta, chateei minha companheira de mesa sobre a significativa possibilidade de a carne vir mal preparada - coisa comum de acontecer.
"É díficil de cozinhar", alegam. Ora, e por que oferecem?
"E por que você pede", me perguntariam. "Para ser Chateau", afirmo, "até encontrar algo decente".

Encontrei.

Excelente prato principal. Carne macia, porção ideal, molho correto na acentuação das nuanças da carne. Feliz, até gostei da polenta - foi-se trauma de infância e eventuais sessões em divãs de veludo.

Pontos também para a entrada e para a sobremesa. Pedi, respectivamente, a mini salada tropical e o cheesecake de banana. Tudo muito bem apresentado, porções bem servidas (algo grande, até) e excelente atendimento - obrigado D. Francisco! Garçons atenciosos, simpáticos, prestativos e desenvoltos. Quase uma anormalidade em Brasília.

Para completar o jantar, tivemos a felicidade de pedir um Quinta do Cachão, 2005, da região do Douro. Embora menos pesado que a carne, sabia impor-se no paladar e salientar-se. Preço acessível. Recomendo.

Não atoa, o jantar demorou 3 horas - por escolha nossa.

Em suma: ambiente agradável, ótimo atendimento e serviço, comida bem preparada.

(...) E nada como uma excelente companhia para engrandecer um bom jantar.

Rayuela no RW ou Vale a Pena!


Hoje almocei no Rayuela (412 sul), minha primeira experiência no festival de Brasília. A experiência valeu cada centavo. Vamos aos fatos:

Eu e um amigo chegamos por volta de 12:15h e acredito que tenhamos sido os primeiros clientes do dia. Após consultar o cardápio pedimos as sugestões do festival. A entrada levou 8min para chegar. Era uma salada de arbóreo e banana. A apresentação do prato estava ótima, merecia um dez! O sabor e a quantidade também impressionaram positivamente.

Após a entrada esperamos não mais do que 2min para o belo encontro com nosso prato principal: escalope de filé ao molho black white com batata rosti. Outro dez na apresentação. A batata e a combinação filé e molho branco também levaram dez. O molho "black" era gostoso, mas achamos duvidosa a combinação de sabores com o outro molho. Ao final parecia um pouco enjoativo. Então, o prato principal terminou com um 9, o que ainda assim é uma nota superior. Aliás, o prato principal também era farto!

Já estávamos felizes e contentes. Ao contrário do que imaginávamos, o festival no Rayuela não era gato por lebre, a comida não estava apenas gostosa (o que eu já esperava), mas também era abundante (o que não era esperado). Eis que,6min e 45s após o recolhimento de nossos pratos, chegam os belos brownies com sorvete de oliva e manjericão. Apesar da apresentação ficar em um oito, os bons nacos de brownie animaram este viciado em doces! E o primeiro pedaço roubou um inevitável "hhhmmmmm". A combinação estava excelente, ao menos no início. Como a sobremesa era grande, com o tempo o gosto do açúcar do brownie começou a roubar o sabor da sobremesa. Uma pena, começaram em um dez e tive de ser honesto e atribuir um oito. Mas realmente vale a pena! Não seria justo falar em decepção!

OBSERVAÇÃO IMPORTANTE: A casa estava vazia. Em tempos de festival isso é uma grande vantagem. Seria bom também avaliar o atendimento em um momento de rush.

PONTOS FORTES: Atendimento muito atencioso, molho branco e batata.
PONTOS "FRACOS": Mesinhas de boteco "feel poor" e brownie muito doce.

(...) Pecado é sair de um almoço passando fome.

Crepe au Chocolat ou Quando Desenterraram Tom Jobim


Ontem estive no Crepe au Chocolat da 210 Sul entre 20:50h e 22:35h. Fui cumprimentar um amigo pelo seu aniversário, o que já virou uma boa e oportuna (ista) tradição em Brasília. A casa estava cheia em plena noite de segunda-feira, o que reforça que a creperia se tornou um estabelecimento muito sólido.

Dividi dois crepes com um amigo: o Capitú (filet, chedar e cebolas caramelizadas) e o Charlie Brown (morangos, 50g de chocolate ao leite, 50g de chocolate branco e castanhas picadas).

Após pedir o Capitú e perceber que ele estava demorando demais, decidi lançar mão do cronômetro e marcar o tempo de espera do Charlie Brown. Foram 22 minutos! Os crepes de meus amigos demoraram ainda mais, chegando a quase meia hora de espera. Pedimos um pernil inteiro? Uma feijoada completa? Não, eram apenas crepes!

A casa estava cheia? Pois bem, o que um consumidor espera não são desculpas, mas bom atendimento, o que inclui não esperar demais para ser servido. Se um restaurante tem 100,200, 1000 lugares, não importa como justificativa para atendimento mais ou menos eficaz. Cabe ao estabelecimento cumprir aquilo a que se propõe cumprir. É incrível como nunca me sinto bem atendido no Crepe au Chocolat, seja na Asa Norte ou Sul.

Quanto aos crepes? O Capitú é bem gostoso e servido e seu preço é razoável (R$18,70), já o Charlie Brown não oferece nada de mais. No princípio achei interessante a troca de sabores entre uma garfada e outra (em razão da mistura de chocolates), mas o efeito não dura muito e logo o crepe se torna um senso comum. Por tal razão creio ser caro (R$17,00). Brasília oferece doces melhores pelo mesmo preço.


(...) O Tom Jobim do meu amigo demorou quase meia hora. Temíamos que o próprio fosse levado à mesa.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Restaurant Week ou o 1 Real do Flanelinha Desta Vez Vai Para as Crianças



Hoje começa outra edição do Restaurant Week. O evento teve início há 17 anos em NY e hoje ocorre em mais de 100 cidades pelo mundo. Em Brasília 75 restaurantes participarão. O evento segue até o dia 7 de fevereiro. Avaliaremos aqueles que visitarmos e compartilharemos aqui nossa chatice.

Site do evento: http://www.restaurantweek.com.br/default.asp
Escolha seus restaurantes, seus cardápios e divirta-se!

Almoço:
Entrada + prato principal + sobremesa
R$ 27,50*

Jantar:
Entrada + prato principal + sobremesa
R$ 39,00*

* + R$ 1,00 que será revertido em doação destinada a Fundação Nosso Lar de Brasília, entidade que cuida de crianças carentes que foram abandonadas ou afastadas de suas famílias por sofrerem maus tratos.


(...) Nada como um pouco de caridade para temperar nossos anseios por dinheiro e boa mesa.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Da Inspiração para Praguejar ou Por Que Não Me Ufano

Nós esperamos por 30min - sem serviço.

Brasília é a capital do mau atendimento, como se sabe. Cliente não dá lucro, cumpre obrigação de consumir.
Hoje na padaria veio café gelado. Após reclamação veio outro, algo mais decente. Um toca CD berrava músicas-dor-de-cotovelo. Esse desafio foi fácil: me levantei e tirei o aparelho da tomada. Pouco depois (vingança?) as atendentes começam a lavar um bueiro próximo à minha mesa. Comentário da prestativa atendente: "É... o cheiro é forte, né?!"

(...) Não tinha ketchup.

sábado, 23 de janeiro de 2010

O Erro de Alice ou Sejam Bem-Vindos


"Seu cabelo quer ser cortado", disse o Chapeleiro. Ele esteve olhando Alice por algum tempo com grande curiosidade. "Você deveria aprender a não fazer comentários pessoais", disse Alice algo severa. "Isso é muito rude."


(...) Alice estava errada.