Este blog é um esforço civilizatório pelo bom gosto.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Um Sonho Possível - Oscar 2010


O único motivo que me levou a ir ao cinema para assistir Um Sonho Possível foi o Oscar de Melhor Atriz ganho por Sandra Bullock por esse filme. Queria constatar, o que eu já previa, que a atriz ganhou o prêmio apenas por altruísmo da Academia e não por merecimento.

Sandra Bullock interpreta a perua, Leigh Anne Tuohy, que tem um marido rico e uma vida cercada de futilidades. Em um dia chuvoso e frio, ela reconhece na rua um colega de escola de seus filhos, o jovem Michael Oher (o ator Quinton Aaron de “Rebobine, por favor”), que vagava pela chuva sem ter onde dormir. Leigh Anne é tomada por um sentimento de caridade e resolver levar Michael para morar em sua casa, sem muitos questionamentos de seu marido e de seus filhos (simples assim). A mãe de Michael é viciada em crack e mora no subúrbio violento de Memphis e seu pai se matou pulando de um viaduto. Por ser alto e gordo, Michael ganhou uma bolsa de estudos num colégio de ricos para jogar futebol americano, apesar de ser um analfabeto funcional. Como consequência do incentivo dado pela nova família, Michael se torna um grande jogador de futebol americano, apesar de todas as adversidades.

O diretor e roteirista John Lee Hancock demorou 2 horas e meia para contar essa história bonitinha e superficial e ainda teve a sorte de ser indicado para o Oscar de melhor filme. Um Sonho Possível é chato e demorado, o diretor se esforça para contar uma história emocionante e não explora conflitos essenciais da vida real do jogador Michael Orne, como o preconceito racial numa escola privada do Tennesse. Definitivamente esse foi o pior filme de 2009 que eu vi. Nem as animações da Disney e Pixar estão seguindo atualmente esse roteiro água-com-açucar trabalhado por Hancock.

A atuação da Sandra Bullock não foi nada diferente do que ela fez em 20 anos de profissão. Ela apela para estereótipos na composição dos seus personagens o que sempre torna seus filmes uma comédia-romântica boba, por mais dramática que seja a história. Ela não tem a mínima capacidade de importar características psicológicas e agregá-las aos seus personagens, por isso usa sua própria personalidade para construí-los. De todas as atrizes que concorreu ao Oscar ela foi a pior. Seu prêmio não passou de uma honraria artística dada pela sua popularidade e carisma com o público.

Não vale a pena ir ao cinema para vê-lo. Espere que o filme passe na sessão da tarde.

terça-feira, 9 de março de 2010

A modernidade na contemporaneidade: Malfatti vs Pandolfo




Eu fui apresentado à arte dos irmãos Otavio e Gustavo Pandolfo, conhecidos artisticamente como Os Gemeos, há uns 2 anos pela minha amiga e especialista em Cultura e Arte Urbana Marilia Zoboli. Naquele momento, os irmãos Pandolfo estavam sendo reconhecidos como um dos maiores representantes mundiais da arte do grafite e inauguravam o grande painel que revestiu a fachada da Tate Modern em Londres durante o verão de 2008.

Agora o Centro Cultural Banco do Brasil traz a Brasília a exposição Vertigem, de curadoria dos próprios gêmeos, que fazem questão de salientar que a exposição não é grafite, porque o grafite está na rua, não em galerias. O que eles pretendem apresentar é arte contemporânea.

Apesar dessa limitação conceitual, a exposição é um pequeno resumo do trabalho dos grafiteiros. Tem um grande painel em grafite com todos os elementos que caracterizam sua obra: cor amarela, bandeirinhas juninas, lirismo, romantismo, imagens familiares e ironia política.

A exposição abusa de instalações, cores, luzes, texturas, móbiles, obras interativas. Os Gêmeos fizeram de sua exposição um grande parque de diversões, o que se torna uma oportunidade para introduzir os mais novos na arte contemporânea. Para mim, o grande destaque foi o uso de texturas nos grafites e esculturas, é possível encontrar pena de pavão, lata de óleo, madeira, vidro, purpurina, entre outros materiais que oscilam do reciclado ao luxuoso.




Paralelamente, está em exposição no CCBB a exposição Anita Malfatti – 120 anos de nascimento. É um ótimo exercício artístico comparar a obra d´Os Gemeos com o trabalho de uma das fundadoras do movimento modernista no Brasil. Perto da arte urbana dos Pandolfo, a obra da Malfatti se torna quase neoclássica. Fica evidente que a arte moderna foi o início de um caminho que culminou na arte contemporânea. Malfatti ousou nas cores mais fortes, na ousadia das formas, na incongruência entre representação e realidade, no uso de novos materiais e plataformas, todas características presentes nos gêmeos. O mais interessante é a presença das bandeiras juninas típicas de Alfredo Volpi nos dois trabalhos. O mesmo elemento foi usado com objetivos distintos, enquanto Malfatti queria descobrir o Brasil rural com suas festividades e mitos, os Pandolfo usam o lirismo das festas tradicionais para destoar do caos urbano.

Importante comentar que Vertigem é resultado de uma curadoria profissional, acostumada com a tradição dos grandes centros culturais mundiais de atrair público, inclusive com objetivos comerciais. A exposição de Anita Malfatti mostra o amadorismo ainda presente na produção cultural nacional. Há um excesso de quadros, sem o devido suporte didático, a exposição não é pedagógica e nem auto-explicativa, o que a torna cansativa e chata e afugenta o público, que perde a chance de conhecer um símbolo da vanguarda feminista do modernismo brasileiro.

Serviço:

Anita Malfatti – 120 anos de nascimento

Data: De 23 de fevereiro a 25 de abril

Os Gêmeos – Vertigem

Data: De 02 de março a 16 de maio