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quinta-feira, 1 de abril de 2010

O Moldava ou Um Quadro-Poema em Música

Escultura de Bedřich Smetana na beira do rio Moldava

Em um curso de música, o professor mostrou uma peça do poema sinfônico Má Vlast (Minha Pátria), do compositor tcheco Bedřich Smetana. A obra é hino ao país de Smetana, daí o lugar de destaque que sua escultura ocupa em Praga.

O Moldava (Vladava, em tcheco; mas o nome em português parece uma corruptela do alemão, die Moldau) é o rio que corta a capital da República Tcheca. Não atoa, foi destacado na obra do compositor e é o movimento mais conhecido.

A peça inicia-se com duas flautas, que indicam o correr das águas de dois afluentes do rio. Ao se unirem, o Moldava ganha corpo, e as cordas da orquestra se unem ao sopro. A melodia lembra a fluidez calma de um volumoso rio. Pouco depois (por volta de 2min30), o tema muda, e percebe-se variações no curso do rio; a música se intensifica e mostra rugosidades, aumenta e diminui sua intensidade. Com um mapa do rio, talvez seja possível identificar similitudes da peça com curvas e obstáculos fluviais naturais.
Por volta de 3min40, o tema muda novamente. Segundo o professor, aqui entra em destaque ritmos de polca, que representam celebrações campesinas, talvez, de um casamento. O enfoque da melodia muda: no começo, o espectador (ouvinte) contemplava o rio; agora, contempla-se a paisagem tcheca banhada pelas águas do Moldava. Pouco depois, em 5min, o tema muda novamente. É uma espécie de cena fantástica, onírica, que, novamente, mostra o ambiente tranquilo do qual o rio faz parte.
Em 7min20, volta-se o tema principal e a atenção à corrente do rio. A fluidez arrasta o ouvinte-espectador de forma confortável... até que os metais entram em cena (8min10) e aumentam a vibração da peça. Entra-se em momento de gravidade, de preocupação. São as corredeiras e as quedas d'águas - imagine um barquinho sendo arrastado, se debatendo entre as margens do rio e as pedras e árvores no leito.
Vitorioso (9min20), o barco supera os obstáculos naturais, e o tema do Moldava ganha variações que parecem querer demonstrar a glória do povo tcheco representada pelo rio. A partir de 10min33, as cordas, suaves e silenciosas, ilustram o rio se perdendo de vista. O observador-ouvinte fica observando o lento curso do rio, que, a seus olhos, não tem fim.

Indico a versão regida por Toscanini (embora prefira a de Kubelik): http://www.youtube.com/watch?v=49WNphaiwNY