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terça-feira, 9 de março de 2010

A modernidade na contemporaneidade: Malfatti vs Pandolfo




Eu fui apresentado à arte dos irmãos Otavio e Gustavo Pandolfo, conhecidos artisticamente como Os Gemeos, há uns 2 anos pela minha amiga e especialista em Cultura e Arte Urbana Marilia Zoboli. Naquele momento, os irmãos Pandolfo estavam sendo reconhecidos como um dos maiores representantes mundiais da arte do grafite e inauguravam o grande painel que revestiu a fachada da Tate Modern em Londres durante o verão de 2008.

Agora o Centro Cultural Banco do Brasil traz a Brasília a exposição Vertigem, de curadoria dos próprios gêmeos, que fazem questão de salientar que a exposição não é grafite, porque o grafite está na rua, não em galerias. O que eles pretendem apresentar é arte contemporânea.

Apesar dessa limitação conceitual, a exposição é um pequeno resumo do trabalho dos grafiteiros. Tem um grande painel em grafite com todos os elementos que caracterizam sua obra: cor amarela, bandeirinhas juninas, lirismo, romantismo, imagens familiares e ironia política.

A exposição abusa de instalações, cores, luzes, texturas, móbiles, obras interativas. Os Gêmeos fizeram de sua exposição um grande parque de diversões, o que se torna uma oportunidade para introduzir os mais novos na arte contemporânea. Para mim, o grande destaque foi o uso de texturas nos grafites e esculturas, é possível encontrar pena de pavão, lata de óleo, madeira, vidro, purpurina, entre outros materiais que oscilam do reciclado ao luxuoso.




Paralelamente, está em exposição no CCBB a exposição Anita Malfatti – 120 anos de nascimento. É um ótimo exercício artístico comparar a obra d´Os Gemeos com o trabalho de uma das fundadoras do movimento modernista no Brasil. Perto da arte urbana dos Pandolfo, a obra da Malfatti se torna quase neoclássica. Fica evidente que a arte moderna foi o início de um caminho que culminou na arte contemporânea. Malfatti ousou nas cores mais fortes, na ousadia das formas, na incongruência entre representação e realidade, no uso de novos materiais e plataformas, todas características presentes nos gêmeos. O mais interessante é a presença das bandeiras juninas típicas de Alfredo Volpi nos dois trabalhos. O mesmo elemento foi usado com objetivos distintos, enquanto Malfatti queria descobrir o Brasil rural com suas festividades e mitos, os Pandolfo usam o lirismo das festas tradicionais para destoar do caos urbano.

Importante comentar que Vertigem é resultado de uma curadoria profissional, acostumada com a tradição dos grandes centros culturais mundiais de atrair público, inclusive com objetivos comerciais. A exposição de Anita Malfatti mostra o amadorismo ainda presente na produção cultural nacional. Há um excesso de quadros, sem o devido suporte didático, a exposição não é pedagógica e nem auto-explicativa, o que a torna cansativa e chata e afugenta o público, que perde a chance de conhecer um símbolo da vanguarda feminista do modernismo brasileiro.

Serviço:

Anita Malfatti – 120 anos de nascimento

Data: De 23 de fevereiro a 25 de abril

Os Gêmeos – Vertigem

Data: De 02 de março a 16 de maio

4 comentários:

  1. thi! que bom saber que eu te apresentei osgemeos em um daqueles dias frios e cinzentos de logroño.
    adorei o blog, já está nos meus favoritos!
    Marília

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  2. Vertigem é ótima oportunidade para conhecer a arte dos Gêmeos, mas não vá no final de semana. A tradicional muvuca que toma conta do CCBB deixa a exposição um pouco cansativa. O lugar é pequeno, as amostras são parcas e as filas são grandes, não menores que a frustração ao se entrar nas cabines dos objetos em amostra.

    Quanto à Malfatti... bem, falta tempero. Um ou outro quadro chama atenção; mas nenhum encanta e, ao sair da exposição, não se pensa mais nas obras.

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  3. marshall,

    vc ñ gostou das instalações?

    Eu fiquei fascinado por todas.

    Iremos na próxima Bienal. :)

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