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domingo, 25 de julho de 2010

Tudo Pode Dar Certo


O conto é a menor das narrativas. É breve e simples. Não há espaço e tempo para sutilezas. Pequenos detalhes cotidianos tornam-se protagonistas da ficção, num enredo que condensa e economiza meios narrativos para ser objetivo e direto ao máximo. Woddy Allen, no seu mais recente filme, Tudo pode dar certo (2009), segue à risca a estratégia dos contistas e talvez por isso tenha sido tão criticado pela mídia. Allen abusa dos estereótipos, apela para exageros e para ironias óbvias. Seu filme é como vários contos reunidos em uma grande narrativa que busca resumir em somente uma história o panorama social dos Estados Unidos atual. Talvez este tenha sido o erro de Allen. Os contos são ótimos para narrar pequenos retratos cotidianos que em sua singularidade representam um contexto geral, no entanto Allen quis falar muita coisa em apenas um filme usando a objetividade dos contos. A receita não deu tão certo.

O filme narra a história do sessentão novayorquino Boris Yellnikoff (Larry David) um físico divorciado e frustrado com a vida que se acha consciente da mediocridade do ser humano e por isso tenta se matar para não viver num mundo tão pequeno para sua genialidade. A postura niilista de Boris vai contrastar com a ingenuidade de seu improvável par romântico, a caipira Melody St. Anne Celestine (Evan Rachel Wood), algumas dezenas de anos mais nova. Melody fugiu de sua casa no Mississipi porque não aguentava mais viver numa família protestante e conservadora e acaba sendo albergada por Boris, com o qual acaba casando. Os pais de Melody vão atrás da filha e seu convervadorismo entra em choque com o liberalismo moral de Nova York, o que resulta em ótimas cenas de comédia.

Tudo pode dar certo não é um dos melhores filmes do diretor, mas vale a pena assistí-lo. Suas críticas sociais são super engraçadas e os diálogos fazem jus à genialidade de Allen. Larry David não tem uma atuação muito complexa já que causa apenas reações previsíveis nos espectadores, o que nos leva a sentir falta do próprio Woddy Allen fazendo o seu papel. O destaque é a atuação de Evan Rachel Wood. A atriz mostrou-se uma ótima comediante após se destacar em dramas como O Lutador (2008) e Aos Treze (2003).

Um comentário:

  1. Eu gostei mais da idéia do filme do que dele mesmo. Acho que é mais ou menos o seu sentimento.

    A idéia de "whatever works" não deixa de ter um tremendo apelo contra moralismos, doutrinas e dogmas. Por outro lado, me pergunto se não pode ser uma grande ode à mediocridade. Para ser honesto, eu acho que é.

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